Faxinal dos Guedes

Lance Notícias | 02/08/2021 18:37

02/08/2021 18:37

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Vivendo há mais de 20 anos em área de risco, moradores do Santa Luzia aguardam novo lar

São dez, treze, em alguns casos, até vinte anos de espera. Uma realidade incomum, mas que carrega no peito a esperança de conseguir uma vida mais digna e acima de tudo com qualidade. Quesitos esses que retratam o dia a dia de cerca de 23 famílias que residem no Loteamento Santa Luzia, no interior de […]

Vivendo há mais de 20 anos em área de risco, moradores do Santa Luzia aguardam novo lar Fotos: Patrícia Silva/Lance Notícias

São dez, treze, em alguns casos, até vinte anos de espera. Uma realidade incomum, mas que carrega no peito a esperança de conseguir uma vida mais digna e acima de tudo com qualidade. Quesitos esses que retratam o dia a dia de cerca de 23 famílias que residem no Loteamento Santa Luzia, no interior de Faxinal dos Guedes.

As famílias chegaram no local aos poucos, muitos após comprarem os terrenos, construíram os seus lares, mas não sabiam que o local era de risco. Receberam promessas de uma casa nova, mas ainda aguardam uma posição da Prefeitura.

Gislaine da Silva Dias mora no local há 13 anos. Mudou-se para o Loteamento para ficar perto dos seus pais e agora busca melhores condições de vida.

– Moro aqui há 13 anos, meus pais já moravam aqui há muito tempo. Nasci em Faxinal dos Guedes. Morar aqui sempre foi difícil, a gente tem água e luz, mas já era para a gente ter saído daqui, mas até agora nada. Agora que vem o inverno fica mais difícil ainda. A casa é minha, mas o terreno é da Prefeitura. Moro aqui eu, meus dois filhos e meus esposo. Ele trabalha na ervateira e a gente vive com o trabalho dele. A parte mais difícil é para a cidade, aqui é longe de tudo. Na campanha, o prefeito disse que até o fim do ano passado a gente iria sair daqui, mas até agora nada. Eles falaram que os funcionários que eles pegaram não estavam dando conta do serviço, estavam atrasados demais para finalizar o serviço. O prefeito falou para gente que é por causa disso. Agora, nos falaram que era até agosto, mas aqui na Vila já perdemos todas as esperanças. Mas se Deus quiser, ainda este ano vamos morar lá e ter uma vida melhor – comenta a moradora.

Um novo capítulo, apesar das dificuldades

 

Apesar da pouca estrutura, no local há histórias inspiradoras, como é o caso de Lucinda Sirino. Mesmo contra a sua vontade, ela mudou-se para o Loteamento para ficar junto de seu esposo, que a abandonou. Sendo assim, ela precisou cuidar da casa e dos filhos sozinha.

– Moro aqui há 23 anos. Eu não queria vir morar aqui porque achava muito difícil para ir até a cidade. Eu tinha quatro filhos pequenos e morávamos em uma granja, mas o marido queria morar em uma terra nossa. No fim viemos, ele acabou sendo preso, depois que ele saiu da cadeia foi viver com outra e eu fiquei batalhando sozinha. Criei meus filhos, netos e criei todos sozinhos. Não gostava de morar aqui, mas agora me acostumei. Aqui tenho água, luz. Mas quando cheguei não tinha nada. É bom de morar, mas quando chove a casa molha tudo. Aqui não temos segurança nenhuma, ainda bem que tem as casinhas que logo vamos morar lá. Eu sonho, que na hora que eles me derem as casinhas, eu nem vou acreditar. É uma promessa antiga, mas a gente não perde as esperanças – cita.

Questionada sobre a demora para a entrega, a moradora diz que foram informados pela Administração que o atraso ocorreu devido as obras da rede de esgoto.

– Eles nos falaram que é por causa do esgoto, porque tem um vizinho que não quer ceder as terras. Queremos receber ainda esse ano, mas não sei. O problema aqui é os cachorros, soltam muitos cachorros aqui. Meu Deus, a gente tem dó deles, tratamos e cada dia tem um cão novo. Quando vemos, tem os miseráveis aqui – frisa.

 

O medo nos dias de chuva

 

Eva Clair da Silva também aguarda ansiosa pela entrega das casas. Na sua residência, as dificuldades são diárias, principalmente devido ao chão, que está cedendo. Ela conta que o medo aumenta ainda mais em dias de chuva.

– Estamos ainda aqui. Se eles não entregarem as casas, vamos precisar buscar ajuda para arrumar o assoalho aqui. Está caindo tudo. A minha pia, comprei nova, precisei colocar tijolos em baixo para segurar. Está tudo podre. Eu tenho muito medo, o tempo se arruma para chuva, fica pior ainda. A gente morava no Bairro Rosa e surgiu a oportunidade de comprar aqui. Hoje a gente vive do salário do meu marido, mas não é fácil. Vamos se virando. Está complicado essas casas. Primeiro era para eles entregar para Natal. Depois de Natal vieram com a conversa que iam entregar agora em agosto. Disseram para nós que demora porque precisa construir um muro e um asfalto na frente das casas – comenta.

A espera da moradora ocorre desde a gestão de Edegar Giordani, mas o terreno adquirido na época foi condenado pela Defesa Civil como de risco, sendo assim, a gestão de Gilberto Lazzari precisou adquirir um novo espaço (local onde ocorrem as obras hoje) e realizar a construção. As obras iniciaram em 2019.

– Estamos esperando as casas desde a época do Edegar, mas um foi passando para outro. Está complicado para nos entregar. Hoje a gente tem dúvida de tudo, vai passando, passando e a gente não recebe. Mas eu tenho esperança de receber a casa ainda esse ano. Eu me sinto melhor, lá eu vou estar perto de supermercado, farmácia, posto de saúde, porque sair daqui para ir nesses lugares é longe, por isso, raramente a gente vai. Quando a gente está doente, precisa ir a pé, não é fácil – cita.

Dias de espera, mas também de esperança

 

Keyla Francieli Velozo também mora no Loteamento, mas realiza venda de doces e salgados no centro e bairros do município de Faxinal dos Guedes. Toda a vez que passa pela rua do novo Loteamento, a esperança se renova.

– Eu moro aqui há 13 anos, antes morava com minha sogra, mas era aqui também. Na verdade, o dono dessa casa que estamos hoje nos vendeu e como queríamos morar no que é nosso, compramos. Nós nem sabia que era área de risco. É ruim morar aqui porque é longe de tudo, longe para as crianças ir para a escola. E quando chove o nosso medo é que caia tudo. Dia de chuva, aqui nada fica seco. A casa é toda rachada por dentro. Fizemos alguns consertos, mas nada adiantou. Cada dia que passa fica pior. Meu marido trabalha com um Uber e eu vendo salgados na rua. Saio vender com as piazadas para conseguir arrecadar dinheiro e conseguir levar a vida. Da para ir se virando. Meu filho também sonha em ser policial e batalhamos por esse sonho – salienta.

A expectativa da moradora é receber a casa ainda neste ano.

– A promessa foi grande, a gente confiou. A gente está indo falar com o prefeito, cobrando. Da última vez nos falaram que falta a liberação do IMA sobre umas árvores e tem um negócio do esgoto, que tem um senhor que não quer liberar o terreno para passar a rede de esgoto. Está bem enrolado, era para ter se mudado no ano passado, o prefeito disse que por ele, ele já tinha entregado as casas, mas temos esperança. Que Deus nos ajude. Eu sempre passo lá, dou uma olhada. Não vejo a hora de mudar para lá. É um sonho, uma esperança – conclui.

 

Prefeitura comenta

 

Na última semana, a Administração Municipal garantiu a entrega das obras para este mês. Confira o comunicado emitido:

As obras das unidades habitacionais do Loteamento Santa Luzia, estão em fase final. De acordo com o prefeito Gilberto Angelo Lazzari, a construção da rede pluvial e esgoto, os muros e a instalação da iluminação pública devem ser concluídos nas próximas semanas e a entrega acontecerá no mês de agosto. Serão 29 famílias beneficiadas, inscritas no programa de habitação da Secretaria de Assistência Social, que residem hoje em área considerada de risco.

A construção do Loteamento Santa Luzia teve início em agosto de 2019, todos os investimentos foram com recursos próprios da administração municipal. Cada unidade habitacional, conta com sala de estar, cozinha, dois dormitórios, área de circulação e área de serviço, totalizando 51,30 metros quadrados. Após a entrega das chaves, os proprietários terão 30 dias para a mudança ao novo endereço.

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