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Lance Notícias | 10/12/2020 18:30

10/12/2020 18:30

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Acadêmica desenvolve projeto de TCC para criação de Crematório em Ponte Serrada

Homenagear a memória de quem partiu é uma prática comum presente nas mais variadas culturas e cada uma possui características diferentes. No Brasil, onde a religião predominante é o cristianismo, a forma mais adotada como destinação dos corpos é o sepultamento, porém, as questões relacionadas ao impacto causado por essa tradição são pouco abordadas, como […]

Acadêmica desenvolve projeto de TCC para criação de Crematório em Ponte Serrada Fotos: Arquivos Pessoais

Homenagear a memória de quem partiu é uma prática comum presente nas mais variadas culturas e cada uma possui características diferentes. No Brasil, onde a religião predominante é o cristianismo, a forma mais adotada como destinação dos corpos é o sepultamento, porém, as questões relacionadas ao impacto causado por essa tradição são pouco abordadas, como as consequências em relação ao solo e lençóis freáticos e até a qualidade dos espaços utilizados para esta finalidade.

Grande parte dos locais utilizados para o sepultamento, espaços denominados Cemitérios, sofrem com o descaso, falta de manutenção, limpeza e cuidados. Muitos dos cemitérios não apresentam nenhum tipo de planejamento, foram construídos em local com solo vulnerável, com drenagem da chuva precária ocorrendo inundação de alguns túmulos, esta água pode cair na rede pluvial urbana sendo depois canalizada para os rios que abastecem as cidades.

Foi com esses ideais que a moradora de Ponte Serrada, Caroline Zanchet, desenvolveu seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ela é acadêmica de arquitetura e urbanismo e em sua proposta criou a possibilidade de implantação de um crematório para a cidade de Ponte Serrada.

– Os corpos produzem um líquido proveniente da decomposição que contém substâncias tóxicas como a putrescina e cadaverina, metais pesados, bactérias e micróbios que podem contaminar os lençóis freáticos chegando ao abastecimento de água das residências. Pensando nesta preocupação com a poluição ambiental e o descaso com os espaços destinados a sepultamento, surgiu o seguinte questionamento: como a arquitetura através de um anteprojeto pode contribuir para um espaço com conforto e qualidade para os familiares? O projeto pode contribuir para uma destinação mais adequada dos corpos, de forma higiênica e visando reduzir os riscos ambientais? Então surgiu a ideia do projeto de um crematório, a fim de introduzir a cremação como uma alternativa mais viável e confiável para este fim – comenta a jovem.

Pelo projeto, o terreno escolhido para estudo fica o terreno a 700 m do trevo principal de acesso ao centro da cidade e a 200 m do trevo de acesso à rodovia.

– A escolha do terreno se baseia em fatores como a boa localização, visto que fica localizado às margens da BR-282, que corta toda a cidade, tendo fácil acesso e visibilidade não somente para os munícipes, mas também para todos que transitarem pela rodovia, moradores de cidades vizinhas, atraindo mais clientes para o empreendimento – cita.

Nome e estrutura do local

O projeto leva o nome de Arbor Vitae (Árvore da Vida) e foi inspirado no partido arquitetônico escolhido que é “a árvore da vida”.

– O ser humano, assim como a árvore da vida através de sua existência, contribui para que outras pessoas também cumpram seus ciclos, finalidades e propósitos. A árvore tem o crescimento em direção ao céu, e as raízes fincadas na terra, simbolizando a ascensão e evolução do ser humano, através da expansão espiritual, experimentação e aprendizado através de sua vida na terra. Assim como a árvore o ser humano durante sua vida nasce, cresce, cria raízes, dá frutos, flores e morre. Também foi pensado no conceito da árvore pois uma das alternativas oferecidas no crematório seria a utilização das urnas biodegradáveis, onde são colocadas as cinzas do ente querido juntamente com sementes. As urnas poderão ser plantadas no jardim do crematório, ou em um local de preferência da família – salienta.

Além disso, de acordo com o projeto, a urna é feita de fibras naturais 100% biodegradáveis, as cinzas ficam em um compartimento isolado sem contato com o material orgânico do solo.

– Muitas pessoas encontram conforto em perceber que o ciclo da vida continua. Dando um novo sentido para este ciclo, nos fundos do crematório terá um espaço chamado Bosque da Saudade que poderá ser utilizado para o plantio destas urnas. Nas raízes da árvore então seria colocada uma lápide com o nome do ente querido. A proposta mostra como é possível e viável a utilização de outro tipo de espaço, que irá gerar muito menos impacto ambiental e é socialmente igualitário e agradável, incentivando a busca por melhores alternativas para lidarmos com a morte e com os corpos, alertando as precárias condições em que se encontram os cemitérios da região, os riscos ambientais apresentados por eles e as consequências de continuarmos com este tipo de local – frisa.

A cremação

De acordo com a acadêmica diz que a cremação é mais adequada do que o sepultamento, uma vez que no processo não há nenhum risco ambiental envolvido, pois, qualquer microrganismo contaminante é eliminado na queima, bem como todos os gases tóxicos também são queimados.

– O processo de cremação divide-se em duas etapas: Câmara Primária, que diz respeito ao corpo e ao caixão, atingindo a temperatura aproximada de 600ºC. Câmara Secundária, são processadas as substâncias particuladas e gases resultantes da etapa anterior, com temperatura aproximada de 850ºC. Os gases descem até a câmara secundária através de uma passagem que os força para baixo, após a passagem pela câmara inferior a fumaça sai pela chaminé isenta de cor, cheiro e agentes poluentes. Todo o processo de cremação é normatizado e acompanhado, sendo assim a fumaça emitida pela cremação não é poluente e não tem nenhum cheiro. Na minha proposta arquitetônica utilizei também soluções de energia renovável como os painéis solares e o piso que gera energia através de pisadas, e também foi utilizada a cobertura verde que contribui para tornar a temperatura dos ambientes mais agradável, atraindo pássaros, filtrando a poeira e os poluentes, auxilia também na acústica do ambiente, reduzindo ruídos no interior do ambiente, além de embelezar o projeto – acrescenta.

Conforme Rejane Bolzan Lunkes, arquiteta e urbanista e professora orientadora do projeto e projeto formula uma discussão das relações com a cremação e meio ambiente.

– O projeto do crematório além de expressão arquitetônica relevante para a paisagem urbana do município, traz a discussão sobre as formas de sepultamento e sua relação com meio ambiente. A cremação é o sistema de sepultamento com menor impacto ambiental, gerando como resíduos apenas cinzas. Desta forma a temática possui grande relevância arquitetônica e ambiental, um empreendimento importante para toda região, considerando que o crematório mais próximo está localizado em Caçador – opina.

O professor Anderson Saccol Ferreira, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da Unoesc Xanxerê também comenta sobre o projeto.

– Os trabalhos de curso (TC) de arquitetura e urbanismo visam resolver problemas, aplicar e propor novas soluções arquitetônicas para os anseios da comunidade. No decorrer do curso o aluno aprende a desenvolver os projetos de arquitetura. As matérias são focadas em projeto e tratam a realidade da comunidade e ao fim, o aluno desenvolve o trabalho de curso como estudo acadêmico, e tema de sua escolha. Dessa forma, a proposta de arquitetura da acadêmica Caroline Zanchet traz esse viés. Seu projeto apresenta formas simples e puras com funcionalidade e pré-dimensionado para a comunidade do município de Ponte Serrada – conclui.

 

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