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Lance Notícias | 13/07/2020 09:24

13/07/2020 09:24

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Advogado que ficou paraplégico após acidente de trânsito conta sua história de superação

Entre no nosso grupo do WhatsApp: AQUI. Felipe Fachinello, de 32 anos, foi vítima de um grave acidente de trânsito no dia dez de junho de 2007, há pouco mais de 13 anos, no momento em que estava retornando do município de Catanduvas para Ponte Serrada, de onde é natural. Além das lembranças do acidente, em […]

Advogado que ficou paraplégico após acidente de trânsito conta sua história de superação Fotos: Arquivos Pessoais

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Felipe Fachinello, de 32 anos, foi vítima de um grave acidente de trânsito no dia dez de junho de 2007, há pouco mais de 13 anos, no momento em que estava retornando do município de Catanduvas para Ponte Serrada, de onde é natural. Além das lembranças do acidente, em seu corpo ainda estão as sequelas.

Diante do politraumatismo causado pelo fato, a paraplegia foi a sequela mais grave e permanente, fazendo-o utilizar uma cadeira de rodas em substituição ao movimento das pernas, além das demais adaptações necessárias diante da deficiência adquirida.

– Na época, aos 19 anos completos há poucos dias, sofri um inexplicável acidente de trânsito, que mesmo diante da utilização de cinto de segurança, fui lançado para fora do veículo pelo vidro traseiro (única passagem aberta). Eu era o motorista e haviam dois amigos comigo, que por bênçãos divinas ficaram intactos. Os meus amigos estavam dormindo e eu não tenho qualquer lembrança do momento do acidente, pois entre as moléstias, o traumatismo craniano me levou ao coma já naquele instante, perdendo a memória de aproximadamente 30 minutos da vida. Também tive fratura do acetábulo direito (encaixe do fêmur na bacia), contusão pulmonar e a fratura na coluna, pontualmente na última vértebra torácica, com compressão da medula e consequente perda dos movimentos abaixo da região do umbigo, paraplegia – relata Felipe.

A luta, primeiramente pela vida, ocorreu ainda no local do acidente, com o socorro pela equipe dos bombeiros, logo após no hospital em Ponte Serrada para o encaminhamento para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponível na região.

– Não tenho lembranças sobre nada, porém minha família me conta que houve muita dificuldade em encontrar UTI vaga na região para me encaminharem, restando apenas a do Hospital da Unimed em Chapecó, local onde permaneci por 25 dias, sendo 3 em coma. Quando acordei, daí em diante lembro tudo, fiquei assustado e revoltado, pois estava completamente amarrado, entubado (sem poder falar) e com muitas dores. Foram 11 dias de UTI, uma cirurgia cancelada devido a complicações, 17 dias com a coluna fraturada, e então após 10 horas no centro cirúrgico, finalmente estava arrumada a coluna. Depois só faltava arrumar o acetábulo e curar a anemia. Graças a Deus, família e amigos, tudo deu certo! – relembra.

Ao voltar para casa, novos desafios com adaptações e dores foram enfrentados por Felipe.

– Voltei para casa muito magro, debilitado. Infelizmente não existia elevador para chegar até o apartamento da minha família, sendo carregado pelas escadas, fazendo com que eu não pudesse sair sempre que quisesse. Posso afirmar que os primeiros 6 meses foram os piores, pois existiam todas as limitações possíveis, tive que reaprender tudo, como uma criança. No mesmo ano do acidente, após 5 meses, consegui uma vaga no hospital de reabilitação neurológica – SARAH, hospital gratuito e de excelente padrão. Utilizei um colete rígido por 8 meses o qual não permitiu com que eu pudesse concluir o processo de reabilitação em uma única internação, fazendo com que tivesse que retornar ao SARAH 1 ano após o acidente – diz.

 

Nova etapa: a graduação.

Na época do acidente, Felipe cursava Engenharia de Alimentos pela UDESC, na Cidade de Pinhalzinho. Diante do ocorrido e pela falta de estrutura naquela cidade na época, precisou trancar o curso. Após 2 anos, ele deu início a sua nova fase de graduação, ingressando no curso de Direito da Unoesc de Xanxerê.

– Eu tentei retornar ao tão sonhado curso de Engenharia de Alimentos, porém não tinha como morar sozinho em Pinhalzinho naquela época, pois não existia acessibilidade em praticamente nenhum lugar. No segundo semestre de 2009 resolvi que iria tentar fazer algumas matérias do curso de Direito em Xanxerê, somente para ver se conseguiria me virar sozinho. Tudo deu certo e no final daquele ano prestei vestibular e já iniciei a grade completa no começo de 2010, indo e vindo todos os dias de carro, inicialmente sozinho e, após, fornecendo carona para dois amigos. Posso afirmar que o momento mais emocionante da vida foi o da formatura, pois havia vencido mais uma etapa da vida, ao lado de familiares e amigos, os quais sempre estiveram ao meu lado. Sempre digo, só fiquei paraplégico, estou de férias de caminhar, mas um dia tudo voltará ao normal, afinal a esperança nunca morre – salienta.

Sobre a aceitação, Felipe diz que constrói sua vida todos os dias e que tudo é um aprendizado.

– A minha vida está sendo reconstruída ou construída todos os dias. Tudo é aprendizado e nada é por acaso. Não é porque adquiri uma deficiência que devo me acomodar e somente lamentar, pelo contrário, devo erguer a cabeça e seguir, vivendo da melhor forma possível os momentos proporcionados e não deixando jamais a fé e esperança de lado. Todas as pessoas, com limitações físicas ou não, possuem enfrentamentos todos os dias, uns reclamam menos e outros mais. Eu luto pelos meus objetivos, então convivo com a situação de ser cadeirante, mas não me acomodo com a simples aceitação. Se nós, pessoas com deficiência, não nos inserirmos na sociedade, lutando pelos nossos direitos, ninguém fará isso. Eu noto no convívio, como as pessoas mudam e aprendem a não me limitar pela deficiência que possuo, por exemplo: quando comecei o curso de Direito, o primeiro olhar dos colegas foi estranho, de dó, porém ao final eu era somente mais um, tão capaz quanto eles e mesmo assim, jamais deixaram de estar prontos para me ajudar quando eu precisava – comenta.

Hoje Felipe faz uma retrospectiva dos últimos 13 anos vividos e nota o quanto melhorou, como ser humano, e quanta coisa conquistou. Está em uma nova fase da vida, noivo, cheio de planos pessoais e profissionais e destaca:

– Nada na vida acontece por acaso, é importante, por mais difícil que seja, enxergamos o lado positivo das situações. Não somos nada e não levaremos nada material desta vida, deixando apenas nosso legado de exemplo e conquistas – conclui.

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